Resumen:
A presente pesquisa objetiva compreender como Simone Weil (1909-1943), por
meio das suas investigações acerca da percepção, do trabalho e da noção de
leitura, desenvolvida em um dos seus últimos textos, procura explicar a relação entre
existência e transcendência. Compreendemos que tal problema envolve, nesta
autora, a formulação de uma síntese entre materialismo e idealismo na qual a
relação dialética entre espírito e matéria é vista como estando submetida a uma
ordem transcendente que consiste no próprio Bem. Portanto, colocar em questão a
precedência da matéria para o pensamento é um erro, do mesmo modo que reduzir
o sujeito à matéria ou encerrar a inclinação e possibilidade do Bem no domínio das
coisas materiais o é. Partindo disso, analisa a participação ativa do espírito no
conhecimento que ocorre pela percepção, em especial a percepção no trabalho.
Este, por sua vez, permite conhecer essa materialidade que nos cerca e que se
constitui como necessidade, do mesmo modo que permite ao ser humano recriar
suas condições de existência. O trabalho carrega também uma função espiritual na
medida em que desperta os indivíduos para a sua real condição que não é de
dominação das coisas, mas de obediência e conformidade à esta mesma ordem que
rege a matéria. Por fim, apresenta a noção de leitura através da qual reinsere o
sobrenatural no mundo. A noção de leitura que apresenta é análoga a de leitura
textual, e por isso recebe este nome. O mundo é como um texto e o espírito deve
receber ativamente as significações que se escondem nos objetos. Esse processo é
ativo porque envolve irrecusavelmente o corpo, já que está relacionada ao trabalho.
É por ela que se compreende, enfim, os objetos não como fins em si mesmos, mas
como signos desta realidade sobrenatural.