Resumen:
Assim como todas as principais categorias próprias ao pensamento filosófico, o espaço impera como questão irresoluta. Nos últimos séculos, Newton (espaço vazio e absoluto) e Einstein (tempo-espaço relativo à curvatura do campo) têm destaque na interpelação de uma problemática ainda em aberto, a saber, a ontologia do espaço. Afora o aspecto epistemológico do problema, quanto a natureza e realidade de sua exterioridade e/ou caráter total, é menos evidente sua abordagem somada à ação humana, no processo de sobreposições entre uma natureza social e uma natureza física. Diante disso, o espaço geográfico (sistemas de objetos e ações), que para Milton Santos é meio construído no trabalho pela técnica, direciona uma interpretação do espaço-tempo que busca na filosofia o entendimento da Natureza que torna-se social e, por meio disso, contém em si uma causalidade imaterial. Para entender sua assunção como categoria filosófica, enfatizamos que a formação socioespacial, dialeticamente entendida, investe-se como estrutura material e ordenada ao pensamento e, ao mesmo tempo, é submetida
à possibilidade de transformação aberta do sujeito com o Mundo. Para Simone Weil, o trabalho tem lugar privilegiado nessa dualidade contraditória entre sujeito e matéria, pois é o aspecto chave para entender o problema do conhecimento através do sentido de transformação da realidade e realização da vida humana em sociedade. Assim sendo, na intersecção do caráter passivo de ser afetado pela exterioridade e o ativo de tentar dominá-la, o entendimento encontra na ação extensiva do corpo uma participação viva impressa no espaço. O produto do trabalho imprime uma relação com a necessidade que, para Weil, é o que indica a ordem verdadeira da realidade; sendo assim, é no espaço produzido que se faz a possibilidade de acesso às coisas em si. Afirma-se que quando se aliena o sujeito do sentido de seu trabalho e sua construção da sociedade como uma realidade espaço-temporal, perde-se, ou se hipostasia a partir de uma
ordem de poder dada por forças sociais específicas, a possibilidade de um conhecimento
verdadeiro e a assunção do valor. Entende-se que essa pesquisa possibilita, a partir de uma retomada do conceito de espaço geográfico como categoria filosófica (iniciada por Milton Santos no V ENG de 1982 em Porto Alegre), dar fôlego a problemas não só de ordem ontológica e epistêmica como das contradições entre mente e matéria, sujeito e objeto, razão e experiência, mas aquelas éticas e políticas, como as relativas aos problemas da liberdade e determinismo, seja em nível social (à guisa da alienação e dominação) ou em nível da condição inerentemente humana diante do Mundo.