Resumo:
O presente estudo resulta da pesquisa sobre a relação público-privada firmada entre
o Estado de Rondônia e o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE),
bem como os efeitos que tal parceria gera no âmbito do Ensino Médio após a
chegada do Modelo Escola da Escolha. Inserida nesse contexto temático, a
investigação tem como objetivo identificar os princípios estruturantes do Modelo
Escola da Escolha, a fim de compreender as articulações desse modelo em conexão
com a racionalidade neoliberal e com a possível produção de uma cultura escolar
característica, no Estado de Rondônia, entre 2017 e 2022. A metodologia utilizada
centra-se na Entrevista Compreensiva, por meio das entrevistas dos gestores e dos
professores, assim como na análise de documentos oficiais do Programa Escola do
Novo Tempo no Estado de Rondônia, em 2017. Desse modo, mediante a análise de
tais entrevistas e a análise dos Cadernos de Formação do ICE, foi possível
compreender que o programa da escola de tempo integral suscita, nos gestores, nos
professores e nos estudantes, uma determinada cultura, que se identifica por
intermédio das práticas cotidianas desenvolvidas no contexto escolar e na relação
entre estratégia e tática, produzidas nesse contexto e entendidas a partir de Michel
de Certeau (1996). A cultura escolar observada nesse Programa diz respeito a
alguns procedimentos executados pelos atores envolvidos, tais como: realizar o
planejamento na escola, pois é uma exigência do Programa; preparar uma Eletiva,
no intuito de contemplar os anseios dos estudantes; exercer a função de tutor, às
vezes no horário do almoço ou de planejamento; ter uma agenda semanal, que
inclua uma reunião de área, com o propósito de alinhar e de se inteirar das
atividades propostas pela gestão escolar e por outras áreas; focar na avaliação
semanal, com vistas a resultados rentáveis e satisfatórios que satisfaçam os
interesses do ICE e da Secretaria Estadual de Educação, que vai interferindo
diretamente nos movimentos pedagógicos dos docentes, por meio de avaliações
padronizadas, condicionando docentes e estudantes a cumprirem as demandas
exigidas pelos órgãos responsáveis pela educação básica do país. A respeito desse
cenário, defendo a tese de que o Programa Escola do Novo Tempo, com inspiração
no Modelo Escola da Escolha, apresenta elementos ideológicos presentes nos
Cadernos de Formação que são usados pelo Instituto de Corresponsabilidade pela
Educação para suscitar, na gestão escolar, nos professores e nos estudantes, uma cultura, em determinados aspectos, singular a esse modelo escolar. Tal modelo é
pautado em um gerencialismo empresarial, que prepara os estudantes para
atenderem aos anseios do mercado de trabalho e que os condiciona para uma
racionalidade neoliberal, por meio de um discurso de tornar-se empreendedor de si.
Nessa direção, serão responsáveis pelos seus sucessos e pelos seus fracassos, o
que isenta o Estado de sua responsabilidade para com a educação, em uma
parceria pública-privada que tem avançado sistematicamente na educação básica
brasileira nos últimos anos.