Resumo:
A saúde suplementar brasileira configura um campo contestado, caracterizado por tensões entre interesses econômicos, sociais e políticos. Este estudo, fundamentado na teoria institucional, busca compreender as dinâmicas da legitimidade nesse mercado por meio da análise de sua trajetória histórica, estrutura atual e lógicas institucionais emergentes. A pesquisa identifica três lógicas institucionais predominantes — a lógica de mercado, a lógica dos direitos sociais e a lógica estatal — que influenciam as práticas e decisões dos atores do setor. Os resultados apontam que a legitimidade do setor é continuamente desafiada por fatores como a percepção de foco excessivo no lucro, o crescimento intenso da judicialização e questionamentos à eficácia da regulação da ANS. Ataques à legitimidade do setor abalam a confiança entre as partes, demandando estratégias que conciliem pressões regulatórias, demandas sociais e práticas éticas, de modo a sustentar a legitimidade normativa, cognitiva e regulativa do mercado. Estratégias voltadas à transparência e à educação dos consumidores são destacadas como essenciais para fortalecer a confiança no mercado e promover maior equilíbrio. A contribuição teórica deste trabalho reside na compreensão na dinâmica de legitimação e deslegitimação em um mercado contestado, influenciado por múltiplas lógicas institucionais e marcado por uma forte presença regulatória. A contribuição prática está no fornecimento de subsídios para o desenvolvimento de estratégias institucionais e discursivas que fortalecem a legitimidade do setor, por meio de propostas para mitigar os ataques promovidos pelas narrativas identificadas. Por fim, o estudo do mercado de saúde suplementar pode subsidiar políticas públicas ao revelar diferentes perspectivas e discursos no debate.