Resumo:
A festa de “Santos Reis” ou “Reisado” que analisamos nesta tese, se configura como a ressignificação de um ritual que foi introduzido no Brasil por meio dos colonos portugueses que celebravam o nascimento do menino Jesus fazendo menção aos três Reis Magos. Esta era uma manifestação de cunho religioso encontrado por toda a Península Ibérica, em que era comum a doação e recebimento de presentes junto à entoação de cantos e danças nas residências. No Norte do Piauí e no Leste Maranhense, a festa dedicada aos Santos Reis, que se inicia com o pagamento de um ex-voto em reconhecimento a uma graça alcançada, tornou-se tradicional. A festa é composta de vários elementos simbólicos, típicos do Nordeste e representativos para os celebrantes. Entre eles estão trajes, rezas e cantos específicos, além de personagens como o “boi”, o “cavalo veio”, a “burrinha” e os Caretas. No presente trabalho, transcorridas entre 2009 a 2024 em cidades do Norte do Piauí e Leste Maranhense, indagando como a experiência revivida nesta prática, compõe a história das pessoas e dos lugares. A partir da consulta a uma historiografia de referência sobre a temática das devoções populares (Brandão, 1980; Zaluar, 1983), das festas religiosas dedicadas a Santos Reis (Barroso, 1996; 2013; Cornélio, 2009; Menezes, 2018), e da consulta às fontes, nosso objetivo é analisar a diversidade da teatralização da fé nos festejos aos Santos Reis nestes dois territórios, de forma a ampliar compreensão de aspectos ainda desconhecidos na historiografia sobre o tema. A festa de Reis se configura como um patrimônio cultural dos festeiros, promovendo, nos sujeitos envolvidos, a valorização de sua história e de sua cultura. A tese também contribui com reflexões acerca das relações entre os indivíduos e grupos, suas práticas, dando indicativos de como se constroem papéis sociais e culturais, se consolidam ações, saberes e fazeres de práticas religiosas.